Findi tranqüilo...
Alguns viajando... outros ficaram...
Mas o importante é que todos possam estar em paz...
Inegável que nesse fds eu tenha pensado numa situação inusitada... com as pessoas que me cercam... pessoas que importam muito...
Lembro de um poema que compartilho com vcs...
Amor de verdade é pra segurar as pontas.
Há de ter vontade de ser melhor,
há de fazer alguma força e de cantar
algum canto de dormir.
Tem que se ter esperança e vontade
e confiar nas coisas belas do estar.
Amor de verdade não questiona, pergunta;
não se entrega ou se corta
mas também dói e estica.
Não tem remédio, mas tem sempre curativo;
não tem punho fechado,
pois com a mão aberta a pele se mostra melhor.
Ele é noite para quem passou o dia,
é madrugada para quem deita tarde.
Amor de verdade se dá, mas não se toma.
Se deita, mas não se doma.
Ele tem pontas dos dedos e tem segredos
e tem seu jeito de afastar os medos.
Acima de tudo, amor de verdade não é perfeito,
ele é completo e presente, é muito mais.
Amor perfeito é só uma planta...
Qual a razão dessa loucura desenfreada...
Um cidadão escreveu um texto que falava mais ou menos o seguinte...
Hoje eu acordei inspirado... vontade de viajar... tomar um expresso bem forte... andar na chuva... ouvir Tom Jobim... passar a noite em claro... comprar um monte de livros... fuder durante horas... tocar violão... encontrar um amigo de infância... fotografar uma mulher bonita... comer caju com sal... pilotar uma moto... confessar paixões... dançar agarradinho ao som de uma balada... dar um murro na cara de um estúpido... roubar um beijo naquela paixão antiga... beber vinho na buc*** de alguém que eu ame...O cara é um filósofo... merece aplausos...
Mas assim segue a vida...
Sem fugir muito do tema...
Fica um texto belíssimo da Poliana que escreve o flordelaranja...
O sonho de Lara...
Demorou para Lara arranjar um namorado.
Não que ela seja feia, maltratada ou de alto custo.
Muito pelo contrário: é chamada de gostosa quando põe seu tomara-que-caia vermelho, está sempre depilada e com as unhas em estado digno e come qualquer cachorro-quente de carrocinha como se estivesse degustando sashimis de salmão.
No entanto, sua alma, cultivada em concertos de piano e acostumada a filigranas, clamava por algo menos óbvio do que os intelectuais de fachada que costumam povoar o sofá-cama de sua sala de estar.
Depois da quarta citação a Foucault, não havia Cristo que a fizesse ficar excitada.
A realidade nua e crua é que suas escolhas não estavam levando a lugar algum além do chuveirinho do banheiro, testemunha inconteste da inabilidade dos Foucaultianos.
Dia desses, na fila do pão francês, algo lhe chamou a atenção:
-Por favor, são trezentos gramas de blanquet de peru.
Há muito ela não ouvia ninguém pedir trezentos gramas de coisa alguma.
Já tinha tomado como normal que o pobre grama, palavra masculina destinada à medida de peso, fosse indevidamente tomado como menina, assumindo o nada glamuroso posto de comida de vaca.
Afinal de contas, uma grama nada mais é do que um pedaço de capim.
Com os ouvidos em júbilo, Lara vira-se para o lado e, tentando disfarçar o entusiasmo, percebe que o moço, além de bem graúdo, não apresentava nada que se parecesse com aliança nos dedos bojudos.
Respirou fundo e foi precisa como uma revisora de textos:
-Esse sonho que você tá comendo é gostoso?
-É sim, quer provar?
-Agradeço a gentileza, mas vou comprar um pra mim agora.
-Qual sua graça?
-Lara.
-Eu sou Jaime, prazer. Sabe que Lara é o nome da minha analista?
-Jura?
-Se precisar eu juro, mas sou budista, sabe como é...
-Sim, sei, claro, é só modo de falar...
-Tô brincando com você, Lara, não é sempre que uma moça bonita puxa papo comigo na padaria.
Naquele instante, sentiu um calafrio quatro dedos abaixo do umbigo, coisa que não acontece com freqüência, ainda mais na fila do pão.
Depois de seis meses, no entanto, o sonho começou a azedar e aquele doce rapaz, que mais parecia um anjo caído, não largava do pé dela.
Queria dormir junto todos os dias e participar das mais deprimentes etapas de sua feminilidade:
-Pô, Jaime, não quero que você me veja com um saco plástico na cabeça, baby!
-Mas eu te amo de qualquer jeito, boneca.
-Legal isso, esse amor tão generoso, mas, na boa, quero pintar meu cabelo em paz!
-Você quer que eu vá embora? Fala logo!
-Eu não disse isso...
Não disse porque não queria criar um climão desnecessário, mas, em compensação, Jaime passou o resto da noite ilhado no sofá-cama, obrigado a ficar de frente pra televisão e proibido de olhar pra trás, sob o risco de ver sua amada pingando tinta vermelha, como se sangrasse por debaixo daquele saco plástico do Pão de Açúcar.
Na manhã seguinte, já ruiva, decreta:
-Tomei uma decisão.
-Qual, querida?
-De agora em diante, você não vai ficar mais de três dias seguidos aqui em casa, independente de ser feriado, ok?
-Tá, o que você preferir...
-Porque, veja bem, nem eu me aturo por quatro dias seguidos, saca?
-E o que você faz pra se aturar?
-Bebo, pego um filme pornô, entro na internet, essas coisas.
-Mas a gente pode ver um pornozinho juntos...
-Não, não pode, eu quero gemer alto e dar tapa na minha própria cara, entende?
-Aham.
-E não quero fazer essas coisas na sua frente, porque essas coisas eu gosto de fazer sozinha.
-Tá certo.
-Ai, que alívio, achei que você fosse ficar magoado.
-Nada, fiquei é a fim de te dar uns tapas...
-Jura?
-No budismo a gente não jura, já te falei...
Finalmente, aquele sofá-cama foi testemunha do sexo mais animal de todos os tempos.
Pode parecer tolo, mas a sinceridade costuma cair bem em ouvidos preparados.
Lara passou até a sentir falta quando Jaime não dormia por lá.
Dia desses, entre gargalhadas, o papo ficou sério:
-Casa comigo?
-Quando?
-Quando você quiser.
-Posso pensar?
-Lógico!
Depois de refletir por um dia inteiro, decidiu que já era hora de parar de andar com calcinhas dentro da bolsa.
Para tanto, fez uma lista de exigências:
-Temos que ter quartos separados.
-Ok.
-Quando eu estiver gemendo, trancada a chave, não adianta bater na porta que eu não vou abrir, certo?
-Claro, mas posso bater uma punhetinha no corredor, né?
-Se limpar tudo depois, pode!
-Show!
-Importantíssimo! No dia que eu for pintar o cabelo, você vai beber com seus amigos.
-Beleza.
-Nada de assistir pornô juntinho.
-Tá, mas posso continuar com as porradinhas, né?
-Deve.
-Só isso?
-Só.
-Acho justo.
E assim, Lara e Jaime disseram sim.
Nada mal pra moça que saiu de chinelo pra comprar pão francês.
E nem pro rapaz, que pensava que sonho era só um doce de padaria.
Depois de uma estória dessas...
Uma ótima tarde e inté mais...
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